Profissão...Carteirista

Lá estou eu novamente a dizer mal, a criticar os outros ou mesmo a incriminar alguém inocente.

Mas a verdade é que a vergonha continua...

Dia 01 de Julho, céu azul e calor, onze horas da manhã, paragem do eléctrico 28 na Rua da Conceição (Lisboa). O cenário é o melhor possível, imensos turistas que esperam o famoso eléctrico lisboeta, que os há-de levar até ao não menos famoso Castelo de São Jorge.

Ao entrarem decerto, nem desconfiam, que ao chegar ao mirador de Santa Luzia vão estar mais leves, com menos dinheiro e sem carteira.

A técnica é simples, durante a entrada no eléctrico a vitima (quase sempre turista) é "amassada" pelos carteiristas (mestres do disfarce) também conhecidos como "chouriços" e de um momento para o outro a carteira furtada, já se encontra no fim do eléctrico transportada por outro elemento do grupo.

Até aqui...bem, todos nós temos de fazer pela vida, de trabalhar, de bulir, mas para quem, como eu, os conheço a todos sem excepção a situação é mais revoltante.

São sempre os mesmos, sempre com o mesmo Modus Operandi e o mais grave...debaixo do olhar impotente dos policias que fazem a patrulha da zona.

Todos os conhecem, os moradores da zona velha de Lisboa, os passageiros habituais dos transportes, os motoristas e até a própria policia.

Existem no entanto, coisas muito estranhas, como o não aparecimento "ao trabalho" (sim, isto para eles é um emprego como outro qualquer) de carteiristas certos dias do mês...estranhamente naqueles dias que a policia anda com brigadas à civil dentro dos eléctricos.

Até parece que alguma informação sai cá para fora, mas claro está, devo ser eu a imaginar, pois neste país, não é possível haver fugas de informação.

Fico completamente furioso com a passividade da própria policia, pois sabem quem eles(as) são e como actuam. Até parecem parte interessada no negócio...

Mais grave é ver que muitos, são apanhados em flagrante delito, e três horas depois estão a fazer o mesmo, no preciso local onde foram detidos.

Por estas e por outras, ser carteirista em Lisboa, ainda compensa!

Lembro-me de uma imagem, que por muitos anos que viva, nunca me irá sair da cabeça.

Dia frio de Dezembro, 17.00 horas e estávamos perto do Natal, o (conhecido) carteirista descia a Rua Garret, carregado de sacos (curiosamente só de grandes marcas) acompanhado da esposa e dos seus dois filhos.

Parecia um verdadeiro Senhor, um grande pai e bom chefe de família.

Falava ele para a mulher:

-Já viste, isto esta semana até correu bem, conseguir "fazer" aquele italiano no Sábado passado foi a nossa lotaria do Natal.

Estava a ver que não arranjava dinheiro para as prendas dos putos...

- Pois foi a nossa salvação, senão não havia prendas para eles, nem para nós (risos).

Que pode um filho da P**** daqueles ensinar a duas pobres crianças? Nada, a não ser, dar continuidade ao negócio do Pai, o tão chamado negócio familiar.

Mas coitados, eles também são roubados...pelo nosso Governo.

Temos de lhes dar um desconto!